Presença Eucarística
Em si mesma, a hóstia não é nada.
Um pouco de trigo, e só.
Não há nela nada de especial. Nenhum sinal visível que chame a atenção.
Nenhum portento, nenhum fausto, nenhum apelo visual.
Mas após a transubstanciação, o vazio da matéria se enche do Espírito e o pequeno pedaço de pão se torna a expressão mais concreta da presença de Deus entre nós.
Um milagre tão singelo, e ainda assim o maior deles!
Onde estão as espécies consagradas, o ambiente se transfigura. Diante delas, a linha tênue que separa este mundo do outro se turva, e é como se as portas do paraíso estivessem escancaradas; é como se uma torrente de graças incontáveis viesse, impetuosa, na nossa direção, e como se um milhão de anjos estivesse ao nosso redor, entoando hinos de louvor e glória.
É como se estivéssemos sob o olhar terno e afetuoso do pobre de Nazaré.
E então o próprio Deus vem a nós na comunhão.
O extraordinário vem ao nosso encontro da forma mais ordinária possível.
Ansioso por nos cristificar, por nos eucaristizar, por fazer de nós extensões do sacrário, hóstias vivas, ostensórios de carne e osso.
Ainda assim, quem vê o simples sacramento não vê nele a simplicidade do Altíssimo. Quem se detém sob a aparência do pão e do vinho não adentra na essência do mistério.
Quem não crê, não entende.
Da mesma forma, quem comunga pode até não se dar conta, mas é chamado a ser Presença Eucarística nos lugares que frequenta.
Quem comunga pode até não se dar conta, mas santifica os espaços onde está pelo simples fato de estar lá.
Quem comunga pode até não ser dar conta, mas carrega consigo uma centelha divina que abençoa a todos ao seu redor, sem exceção.
Quem comunga pode até não se dar conta, mas atrai os anjos e repele os demônios pelo caminho.
A pessoa que comunga pode até não ser notada. Talvez aqueles com quem ela convive nem sequer percebam quando ela chega e quando ela vai embora. Talvez ela seja ignorada, desprezada ou tratada com indiferença.
Ainda assim, a sua presença eucaristiza o mundo, e Deus se faz presente na vida daqueles que não O buscam através dela.
Quem comunga se torna Presença Eucarística, e com isso a sua vida também se torna um sacramento.
Um sacramento através do qual o Verbo encarna outra vez, e caminha entre nós com os nossos próprios pés e toca a vida dos outros com as nossas próprias mãos.
Quem comunga se torna Presença Eucarística.
E, assim, a Eucaristia se faz presente fora da Igreja.
No partir do pão.
Na vida em comunhão.
Na busca sincera por uma espiritualidade eucarística.
